quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Árida solidão


Árida solidão
Sonhamos concomitantemente,
Prazeres infinitos, loucas noites,
Sexo sob a ocultação do luar,
Corremos saltando de corpo em corpo,
Desesperando sofrendo dorido,
Deixando atras coração partido,
E o sentir? O amanha quando partir?
Corpos descaídos, flácidos e macios,
Onde estão as amantes? Os amigos?
Só, tristemente só,
Mão que se agita no ar em desespero,
Só, sem que ninguém a segure,
Sem que alguém esteja lá…
Pensa hoje, semeias o amanhã!!!
Sírio Andrade®
In: Antologia Depressiva

 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Procuro Sem Saber


Talvez...



Talvez…

 

Talvez tenham perdido a mensagem...

Talvez...

Talvez tenham cumprido uma missão...

Talvez…

Talvez tivesse sido um sonho…

Talvez…

Um desabafo da alma, um fingimento

Um pseudo elevar de um ego distorcido

Uma prova, um teste a mim próprio,

Um meramente, um nada, num tudo palavra…

 

Talvez…

Nem se querer tenha começado,

Ou acabado seja lá o que for,

Talvez, não exista por nunca ter existido,

Por ter nascido de um pesadelo

De um outro louco poeta

Ou o louco seja eu próprio

Por me saber existir apenas na mente,

Ou desejo, ou na queda profana

De um marido doente de amor…

 

Talvez…

Talvez eu não seja nada,

E no nada que sou não posso morrer,

Sou eterno, ou não… um dia calo-me…

Só pelo prazer de me calar… sem ter nada a dizer

Sem ter nada a vos explicar…

Porque eu ainda tenho esse poder,

O poder de me calar, mesmo que não possa morrer!

Sirio de Andrade®
In: Antologia Depressiva

 
 


sábado, 24 de outubro de 2015

Digo-te…


Deixa-me dizer-te
Nada mais me interessa,
Nem a fome, nem a sede,
O cansaço, a pressa, o querer,
Nada me concede vontade,
Nem tristeza, nem saudade
Nem alegria, nem liberdade
Um nada apoteótico
Uma queda, um cuidar
Um esquecer
Desistir de amar
Um ficar,
-sim um ficar
No chão, esquecida da vida
No chão, esperando partida
No chão, nada mais existe
Um querer, ficar
Apenas ficar
-aqui, agora, sem ter saída!
 
Sírio Andrade®
In: Antologia Depressiva


 

Estar…


Caem estrelas perfumadas pelo teu olhar, espalham-se pelo chão como pérolas… Triste sina de esperar a ausência, que a tua partida deixou em mim, solidão obtusa aberta e escancarada aos poderes galopantes que me abriram o coração… um dia… uma noite…

Sírio Andrade®
In: Antologia depressiva

 

Ilusão do ser

Deixo que a noite apenas me afogue,
Na constante falte de ar,
Que a tua ausência me trás,
Em ti respiro, perfumes saudosos
Odores esquecidos no tempo,
Que a tua presença deixou em mim,
Na partida do leito, na aurora do dia
Madrugada dentro, assim fiquei
Esquecido, na porta que nos separa,
Da ilusão de um dia sermos apenas
Verdadeiros um no outro!
Regressa a mim,
Quando a noite cair no meu olhar,
Regressa em mim,
Fica, até o sol raiar!

Sírio Andrade®
In: Antologia Depressiva
 
 

Voltas!...

Volteios nas palavras,
Troces e retorces,
Valendo tua verdade,
Nada mais importa
Nos retorcidos volteios,
Da imposição velada,
Do querer ver já gasto
Fechado portão onde
Constantemente procuras
Por meias verdades assumidas
Abalas todo o muro que a suporta
Fazendo pender de novo a corda
Enlaçada na figueira
Desperto os espíritos
Os fantasmas que este portão encerra
Soltos na noite que se abateu em mim!

Sírio Andrade®
In: Antologia Depressiva
 

 

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Noite!...

Nada na noite é eterno
Nem a vontade de te possuir
Apenas em mim
No sonho poético
De mim próprio
Onde te sonho,
Onde me apaixono
Pela vaga ilusão
Que sejas em mim
Não uma paixão
Mas carne em minha
Alma adormecida
Disforme e sofrida!
 
Sírio Andrade®
 
In: Antologia Depressiva
 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Queda da Razão!



Procuras acorrentado a queda,
Do ser ontem liberto,
Pétala caída em ti amado,
Amaldiçoado, esquecido tempo,
Chama que arde em ti na maré
Imenso luar que me cobre
Manto prateado desilusão
Uivo esquecido no ar
No surdo grito da paixão
Espinhos cravados
Que me rasgam a alma,
No tudo – um nada-
Que me acalma,
No aconchego do beijo
Assim me brindas
Na margem da aura
Que da tua alma
Ainda assim emana!
 
Sírio Andrade®
In: Antologia Depressiva
 

 


domingo, 18 de outubro de 2015

Fogo da alma,


Arde-me a alma por dentro,
Fogo da traição do ser,
Sofrer atroz, por traição à vontade
Ao desejo profundo, de me escurecer
Fechar-me em mim, assassinos
Sangram os versos, as palavras
Arde em ciúme, a lingerie caída
O alvo corpo, na oferta do pecado
Cabelos de oiro, agoiro de minha carne
Flagelo-me, no sofrer atroz de me ausentar
De sair de mim próprio,
Carne que se desprega
Dos tenros ossos quebradiços
Arde todo o meu ser,
No fogo permanente da traição
Ao desejo de mim próprio!
 
Sírio Andrade®
 
 

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Perda de tempo


Preso num redoma circular, no movimento
Apressado pelo contra relógio do pensar
Tempo perdido com o ignóbil e vasto sentir
Nada importa, nada é real, tudo existe
Apenas no agora, no imediato,
Perco tempo, como se perde tempo
No sonho, no pensar futuro, nada é
Nada será, nada existe, tudo se desfaz
Nada é eterno tudo se desfaz na espuma
De uma qualquer onda, que lentamente
Morre ao chegar ao seu almejado destino!
De que me vale perder tempo,
Investir no tempo em que me dou
Na dádiva profana e santificada
Da doação do tempo ao sentir
Se nada é verdadeiro, se nada
Se todo o tempo é um gigantesco
E narcisista “eu” que tudo absorve
Monopolizando para si o eixo
Onde centralizamos os sonhos
Nunca partilhados por ti!
Manténs-me cativo a ti
Preso no movimento circular
Do tempo que a mim
Misericordiosamente
Me vais concedendo
Como uma mera esmola
Do teu ignóbil sentir!
 
In: Antologia Depressiva
 

Sírio Andrade®
 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Miséria!

A cada passo
tropeço 
caio
cegueira humana
que me tolhe
narcisista querer
olhar e não ver
que escolho
ignorar
irresponsabilidade
consciência
consumista
do meu prazer
de ter
sem dar
sem partilhar
amputo-me
da vã humanidade 
que ainda me resta
e escolho
apenas
olhar para o lado!

Sírio de Andrade®
In: Antologia Depressiva