sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Perda de tempo


Preso num redoma circular, no movimento
Apressado pelo contra relógio do pensar
Tempo perdido com o ignóbil e vasto sentir
Nada importa, nada é real, tudo existe
Apenas no agora, no imediato,
Perco tempo, como se perde tempo
No sonho, no pensar futuro, nada é
Nada será, nada existe, tudo se desfaz
Nada é eterno tudo se desfaz na espuma
De uma qualquer onda, que lentamente
Morre ao chegar ao seu almejado destino!
De que me vale perder tempo,
Investir no tempo em que me dou
Na dádiva profana e santificada
Da doação do tempo ao sentir
Se nada é verdadeiro, se nada
Se todo o tempo é um gigantesco
E narcisista “eu” que tudo absorve
Monopolizando para si o eixo
Onde centralizamos os sonhos
Nunca partilhados por ti!
Manténs-me cativo a ti
Preso no movimento circular
Do tempo que a mim
Misericordiosamente
Me vais concedendo
Como uma mera esmola
Do teu ignóbil sentir!
 
In: Antologia Depressiva
 

Sírio Andrade®
 

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